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21 de novembro de 2011

Efeitos do Chocolate sobre o Comportamento

Elimar Jacob Salzer Rodrigues
Especialista em Fármacos que atuam no SNC

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O biólogo Carl von Linné (mais conhecido por seu nome latinizado Lineu), classificou cientificamente o cacaueiro, em 1753, batizando-o de Theobroma cacao. A primeira parte do nome designa o gênero, é emprestada do grego e significa “alimento dos deuses”.


A amêndoa do cacau, presente no interior do fruto, que já era, depois de preparada, ingerida como bebida pelos astecas e pelos maias pré-colombianos em cultos religiosos, foi levada para a Europa a partir de 1554 e inicialmente empregada como medicamento.

Seu uso está relacionado aos efeitos de:
elevação do humor, alívio da tensão e
aumento da capacidade de concentração em tarefas tediosas.


Os efeitos do chocolate sobre o Sistema Nervoso Central ( SNC ) são decorrentes dos seus teores dos alcalóides: cafeína, teobromina e metil-xantina, estimulantes do SNC.

Esses alcalóides têm efeito estimulador relativamente fraco, embora a intensidade do efeito seja sempre individual, mas proporcionam aumento na sensação de bem-estar.


A cafeína, contida no chocolate, no café, nos refrigerantes e em alguns chás, em uso diário, produz certo grau de dependência física, com sintomas de síndrome de abstinência como cefaléia, fadiga, letargia e ansiedade.
Esses sintomas aparecem de 12 a 24 horas após suspenso o uso da substância e explica, de certa forma, o mal-estar e a “ressaca” relatados após o consumo excessivo de chocolate.

Os efeitos psíquicos agradáveis do chocolate podem advir do aumento da liberação da serotonina cerebral, um neurotransmissor relacionado à sensação de bem-estar. A serotonina e a endorfina são também aumentadas pelo exercício fïsico moderado, proporcionando o mesmo resultado.

Efeitos semelhantes aos da maconha e do sexo.
Recentemente detectou-se no chocolate, a n-acil-acetolamina que tem no cérebro efeito semelhante ao tetra-hidro-canabinol (THC), princípio ativo da maconha. Essa substância liga-se a receptores cerebrais causando euforia, loquacidade e alheamento às preocupações e problemas. Além disso, inibe o metabolismo de um lipídeo cerebral - a anandamina - (aumentando sua concentração), que também age como o THC.

Cada 100g de chocolate pode conter cerca de 600mg de fenil-etil-amina (PEA do inglês), outro estimulante cerebral de efeito semelhante à dopamina e à adrenalina que, entre centenas de efeitos, elevam a pressão arterial, causam taquicardia e aumentam os níveis da glicose sanguínea.

A PEA , que é chamada a “droga do amor”, induziria uma sensação similar, bem menor em intensidade, ao clímax sexual. Será?

Dependência
Em muitas pessoas, observa-se verdadeira compulsão para o consumo abusivo de chocolate, denominado Chocolismo. São os chocólatras, chocoholics, chocolics, chocolovers.

Já existem associações como a australiana Chocoholics Anon (Chocólatras Anônimos). Muitas dessas organizações não evitam o seu uso, mas o cultivam.

São conhecidos casos pitorescos de pessoas que, em dieta alimentar, calculam aritmeticamente o número de calorias que podem ingerir em verduras, legumes, carnes e frutas e substituem tudo por chocolate.


Cuidado : mesmo os chocolates dietéticos, continuam a conter muitas calorias, alto teor de gorduras, o que aumenta peso e é impróprio para os que precisam respeitar uma dieta pobre em lipídeos. Além disso, conservam os mesmos alcalóides que produzem as ações centrais de qualquer chocolate.

Existem alguns trabalhos científicos sugerindo que o cacau pode causar ansiedade, agitação psicomotora e, até, uma doença neurológica, chamada esclerose múltipla, embora esse fato necessite confirmação.

A compulsão para o consumo e a dependência ao chocolate não é apenas psíquica, mas tem bases bioquímicas, como as acima mencionadas.

É sempre oportuno lembrar que não existem substâncias que produzem dependência e sim pessoas com personalidades dependentes, que se ligarão compulsivamente a
outras pessoas, ao trabalho, a bebidas, a drogas, a comida e ao chocolate.

2 comentários:

  1. Fui seu aluno na UFJF/1972 - Farmacologia. Sempre gostei de suas aulas . Acompanhei este blog e pretendo adquirir seu livro. Apenas sugiro que troque o fundo da tela do blog pois ha mistura do fundo com as letras o que torna a leitura dificil e desagradavel. Um abraço. Wellington.

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  2. Li suas matérias e gostei, fácil entendimento. Não sou da área de saúde, mas tenho uma mãe com problemas psíquicos e não sei ao certo o que fazer.
    Parabéns Dra. pelo blog.
    A Dra. tem consultório em Juiz de Fora? Atende o PLASC?
    Grata.
    Joana.

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