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24 de fevereiro de 2020


O PESO DA DEPRESSÃO - 2 

RELAÇÃO ENTRE
DEPRESSÃO, INFLAMAÇÃO, E AUMENTO DE PESO



A depressão (MDD - major depressive disorder)
apresenta uma associação histórica com marcadas 
alterações de apetite e de peso.
De acordo com pesquisa publicada na Brain, Behavior, and Immunity¹ (out,2019), aproximadamente metade dos pacientes com MDD apresentam perda do apetite, enquanto 1/3 deles referem aumento do apetite, e de peso, fato que se repete em todos os episódios recorrentes da doença, na mesma pessoa.


O padrão de alterações do apetite nesses pessoas parece ser subjacente a uma patologia imunológica.
O que permanece indefinido é o processo neurobiológico específico que transforma uma inflamação sistêmica, algumas vezes inaparente, em aumento do apetite e em desordem alimentar. 
Nestes pacientes, o mecanismo de sinalização grelinérgica pode estar relacionado com o aumento de apetite.

O QUE É SINALIZAÇÃO GRELINÉRGICA?
É uma alteração que ocorre no Sistema Nervoso Central (SNC), uma das possibilidades atuais para explicar de que forma uma mesma doença emocional, como a depressão, pode produzir alterações de peso opostas, obesidade ou emagrecimento, em diferentes pessoas.
A grelina é um neurotransmissor que atua no SNC, importante no processo
neurotrófico, que se refere à habilidade cerebral de o organismo se adaptar a novos meios e desenvolver novos processos orgânicos de saciedade. [Processos neurotróficos promovem o crescimento, a sobrevivência e a diferenciação dos neurônios; para isso, utilizam peptídeos e proteínas.]
A grelina, também conhecida como o hormônio da fome, é um peptídeo produzido principalmente pelas células épsilon do estômago e do pâncreas, quando o estômago está vazio, e atuam no hipotálamo lateral e no núcleo arqueado, do SNC, gerando a sensação de fome. 

No estômago, células secretoras de grelina incluem ainda as células P/D1 do fundus e parte superior do estômago.
Outros efeitos: a grelina alcança o hipocampo pela corrente sanguínea e altera as conexões entre nervos e células estimulando o aprendizado e a memória. Assim, o aprendizado é mais eficiente durante o dia e quando o estômago está mais vazio, que é quando a grelina está mais alta na circulação.
Quanto mais elevada for a produção de grelina, resultando em concentrações altas no sangue, maior será a sensação de fome. Quando nos alimentamos, a secreção da grelina diminui e a secreção de leptina aumenta, gerando saciedade.


Esse mecanismo tem suas raízes no hipotálamo, situado na base do cérebro, onde se encontram numerosos centros do sistema nervoso simpático e parassimpático, reguladores do sono, do apetite, da temperatura corporal e de numerosas outras funções fundamentais para a vida. 
Regula todo o metabolismo hormonal humano.



Se o hipotálamo lateral for removido, como em estudos experimentais com animais, a alimentação se torna menos frequente, levando a perda grande de peso e morte.  Se o hipotálamo ventromedial for removido o apetite aumenta muito, levando a ganho de peso e obesidade severa.

Conclusões:
    1. Inflamações periféricas (fora do SNC), podem ter um papel nos processos comportamentais e neurológicos subjacentes às alterações de apetite e de peso na depressão;
    2. Pesquisa de Simmons e Cols., (Molecular Psychiatry,3), verificou ser possível que uma inflamação sistêmica, em pessoas com depressão, possam levar a uma sinalização interrompida via hipotálamo, bem como um subsequente embotamento dos sinais homeostáticos de saciedade, que levam informação a essas áreas no SNC.

 Esses estudos, associados a futuras delineações tanto das inflamações, como dos subtipos de alterações de apetite, poderão, finalmente, levar a uma objetivação maior, mais personalizada, a um tratamento mais efetivo da depressão maior, e à prevenção dos seus concomitantes resultados adversos para a saúde, como a obesidade e as doenças cardiovasculares.





1. Cosgrove KT, Burrows K, Avery JA, et al. Appetite change profiles in depression exhibit differential relationships between systemic inflammation and activity in reward and interoceptive neurocircuitry [published online October 8, 2019]. Brain Behav Immun. doi: 10.1016/j.bbi.2019.10.006
2. Cerit H, Christensen K, Moondra P, Klibanski A, Goldstein JM, Holsen LM. Divergent associations between ghrelin and neural responsibility to palatable food in hyperphagic and hypophagic depression. J Affect Dis. 2019; 242:29-38.
3. Simmons WK, Burrows K, Avery JA, et al. Appetite changes reveal depression subgroups with distinct endocrine, metabolic, and immune states [published online June 13, 2018]. Mol Psychiatry. doi: 10.1038/s41380-018-0093-6


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